Domingo, maior do que o Dia do Sábado Judaico


“As aparições do ressuscitado no primeiro dia da semana, no domingo, estão narradas Marcos (16,14-18), em Lucas (24,36-49) e em João (20,19-23), onde Jesus lhes mostra os sinais da gloriosa paixão, tomou com eles a refeição, transmitiu a paz, infundiu o Espírito. Houve também um segundo encontro de Jesus, que aconteceu depois do sábado, segundo narrativa em João 20,26, no qual o Senhor Ressuscitado comunicou o dom da Paz, que que transmite repetidamente em suas aparições”.

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

“Portanto, pode-se com razão dizer, como sugere a homilia de um autor do século IV, que o «dia do Senhor» é o «senhor dos dias». Todos os que tiveram a graça de crer no Senhor ressuscitado não podem deixar de acolher o significado deste dia semanal, com o grande entusiasmo que fazia S. Jerónimo dizer: «O domingo é o dia da ressurreição, é o dia dos cristãos, é o nosso dia». De fato, ele é para os cristãos o « principal dia de festa», estabelecido não só para dividir a sucessão do tempo, mas para revelar o seu sentido profundo. (Papa João Paulo II)”

Na Carta Apostólica Dies Domini, São João Paulo II recordava que a importância fundamental do domingo, reconhecida continuamente ao longo de dois mil anos de história, foi reafirmada vigorosamente pelo Concílio Vaticano II. “Por tradição apostólica, que nasceu do próprio dia da Ressurreição de Cristo – diz o numero 3 do documento publicado em maio de 1998 – a Igreja celebra o mistério pascal todos os oito dias, no dia que bem se denomina do Senhor ou domingo. Paulo VI ressaltou novamente a sua importância, quando aprovou o novo Calendário Geral romano e as Normas universais que regulam o ordenamento do Ano Litúrgico.”

Nesse sentido, “a iminência do terceiro milênio, ao solicitar os crentes a refletirem, à luz de Cristo, sobre o caminho da história convida-os também a redescobrir, com maior ímpeto, o sentido do domingo: o seu «mistério», o valor da sua celebração, o seu significado para a existência cristã e humana.”

Dando sequência a sua série de reflexões sobre o Dia do Senhor, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe hoje “Domingo, maior do que o Dia do Sábado Judaico”:

 

“O artigo 106 da Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium, que aponta a renovação do ano litúrgico pela revalorização do domingo, rende o aprofundamento de um dos Cadernos do Concílio. O volume 12 da Coleção “Cadernos do Concílio” trata do Domingo, tema presente na Constituição do Concílio sobre a liturgia. O segundo capítulo deste caderno tem por título: “A Igreja celebra no Domingo o Evento da Salvação”. Nesse capítulo há um subtítulo: Domingo, Páscoa da Semana. Nesse subsídio, do Dicastério para a Evangelização, Pe. Giuseppe Midili diz que “depois da Paixão e da Morte, o Ressuscitado apareceu aos seus no primeiro dia depois do sábado; a comunidade apostólica manteve a tradição de uma reunião festiva semanal, que fosse caracterizada pelo memorial da Ressurreição, como foi no início de Pentecostes”.

O autor aqui também lembra Sacrosanctum Concilium, no número 6, que diz assim: “Desde então, a Igreja jamais deixou de reunir-se em assembleia para celebrar o Mistério Pascal”. Foi naquele primeiro dia depois do sábado, de fato, que o Ressuscitado marcou um encontro com os seus, apresentou-se ao grupo dos Apóstolos reunidos e teve com eles aquela primeira reunião que antecipa o encontro dominical cristão e que caracterizou a jornada pelos séculos futuros”[1]

As aparições do ressuscitado no primeiro dia da semana, no domingo, estão narradas Marcos (16,14-18), em Lucas (24,36-49) e em João(20,19-23), onde Jesus lhes mostra os sinais da gloriosa paixão, tomou com eles a refeição, transmitiu a paz, infundiu o Espírito. Houve também um segundo encontro de Jesus, que aconteceu depois do sábado, segundo narrativa em João 20,26, no qual o Senhor Ressuscitado comunicou o dom da Paz, que que transmite repetidamente em suas aparições, mostrou as Chagas glorificadas a Tomé e o convidou a acreditar.

Padre Giuseppe, autor desse Caderno do Concílio, comenta que as comunidades cristãs de origem Judaica, todavia, festejavam dois dias. “No sábado frequentavam a sinagoga, e escutavam a escritura, enquanto no domingo, se reuniam para a fração do pão. O sábado começou a perder a sua importância quando os gentios começaram a se converter. Assim, passou a existir como que uma mescla das duas realidades: da proveniência pagã e da proveniência judaica – os valores espirituais do sábado passaram lenta e parcialmente ao domingo; e, entre esses, merece destaque o aspecto do dia do repouso”.

O autor desse caderno menciona Cesare Giraudo que em seus estudos diz que “a suspensão das ocupações diárias não é somente para obter uma pausa das fadigas do corpo e para recordar o repouso de Deus depois da criação, mas sobretudo para dedicar-se ao estudo da Lei. De fato na Tefilá, ou seja, a Súplica da vigília do sábado, que comumente é chamada também de santificação do dia ou quarta bênção, reza-se a Deus dizendo:  Satisfazes de nosso repouso. Santifica-nos com teus preceitos, coloca-nos do lado de tua Lei, sacia-nos com os teus bens, alegra-nos com tua salvação e purifica o nosso coração”. O autor Giraudo, mencionado nesse caderno do jubileu, escreve que “o sábado é memorial da criação, compreendida não somente para fazer ser o homem, mas sobretudo destinada a dizer ao homem, por meio do dom da Lei que culmina na revelação dos Sinai como ele deve ser”.

São João Paulo II, na Carta Apostólica Dies Domini, comenta essa transição do sábado para o domingo como dia sagrado. “Bem cedo, porém, se começou a diferenciar os dois dias de forma cada vez mais nítida, sobretudo para fazer frente às insistências daqueles cristãos que, vindos do judaísmo, eram favoráveis à conservação da obrigação da Lei Antiga. Santo Inácio de Antioquia escreve: « Se os que viviam no antigo estado de coisas passaram a uma nova esperança, deixando de observar o sábado e vivendo segundo o dia do Senhor, dia em que a nossa vida despontou por meio d’Ele e da sua morte […], mistério do qual recebemos a fé e no qual perseveramos para sermos reconhecidos discípulos de Cristo, nosso único Mestre, como poderemos viver sem Ele, se inclusive os profetas, que são seus discípulos no Espírito, O aguardavam como mestre?».

E Santo Agostinho, por sua vez, observa: «Por isso, o Senhor também imprimiu o seu selo no seu dia, que é o terceiro após a paixão. Porém, no ciclo semanal, aquele é o oitavo depois do sétimo, isto é, depois do sábado, e o primeiro da semana». A distinção entre o domingo e o sábado hebraico vai-se consolidando sempre mais na consciência eclesial, mas em certos períodos da história, devido à ênfase dada à obrigação do descanso festivo, regista-se uma certa tendência à «sabatização» do dia do Senhor. Não faltaram, inclusive, setores da cristandade em que o sábado e o domingo foram observados como « dois dias irmãos »”[2].

Juntamente com esse aspecto de restauração das fadigas, os cristãos celebraram um segundo Memorial, que é especificamente deles, o memorial da Ressurreição, no qual Cristo imprime uma força nova para todas as coisas. O domingo, então, é descrito como superior a todas as outras festas, inclusive a do sábado, porque revela o Autor da Ressurreição e é o dia para oferecer a Eucaristia para dar Graças, como se lê nas Constituições Apostólicas (7,37)[3].

O domingo, em latim, foi chamado de “primordialis Dies festus”, o seja, o primordial dia de Festa. Os mártires de Abilene tenham uma outra expressão assim: “Sine domenica non possumus”, ou seja, traduzindo: “Não podemos prescindir do domingo”.

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] Cadernos do Concílio, Jubileu 2025, n.12. O Domingo, Edições CNBB, p.32.
[2] JOÃO PAULO II, Dies Domini, 23.
[3] Idem, 33.



Fonte (Vatican News)

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