Fisichella: pessoas com deficiência, testemunhas do verdadeiro amor cristão

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29/abr/2025

A oração e histórias de pais e jovens que vivem experiências de acompanhamento e enriquecimento com pessoas com deficiência. Estes são os momentos que marcaram a catequese na Praça de São Pedro, conduzida pelo arcebispo italiano: "Vocês estiveram por muito tempo na sombra, é hora de reavivar a esperança."

Benedetta Capelli – Cidade do Vaticano

Guarda-chuvas abertos e muitos chapéus para se protegerem do sol da primavera, suéteres coloridos para identificar o grupo ao qual pertencem. Este é o cenário da Praça de São Pedro, onde centenas de pessoas com deficiência, acompanhadas por suas famílias e cuidadores, participam do Jubileu e da catequese do arcebispo Rino Fisichella, ex-pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização. É a saudação na Língua dos Sinais que abre este momento de oração e reflexão do qual participam pessoas de 95 países, como Japão, Bolívia, Estados Unidos e muitos outros. "O mundo inteiro - diz o arcebispo - está aqui na Praça de São Pedro hoje".

A esperança, uma chama a ser reavivada

 

É o Jubileu das pessoas com deficiência, é o Jubileu da esperança, aquela esperança, diz Fisichella, que acompanha a todos rumo ao despertar, que não percebemos, mas que guia toda a nossa vida. Uma chama a ser reavivada, que alimenta a mente e o coração.

A esperança verdadeira e não vinculada a coisas efêmeras, recorda o prelado, tem o rosto de Jesus de Nazaré, por isso o convite é a caminhar com Ele, deixando-se guiar pela Sua Palavra, a testemunhar com gestos e escolhas de vida, porque Ele é a esperança para todos, ninguém excluído.

Jubileu das Pessoas com Deficiência Jubileu das Pessoas com Deficiência

Jubileu das Pessoas com Deficiência   (Vatican Media)

A fragilidade, um instrumento para amar mais

 

“Vocês estão no coração da Igreja”, diz dom Fisichella, referindo-se às pessoas mais vulneráveis, frágeis e fracas, que muitas vezes não recebem a atenção que merecem. “Na fraqueza - explica - devemos encontrar a nossa vocação na Igreja; a fraqueza é um instrumento para amar ainda mais. Façam da deficiência a força do amor que se doa a todos; ninguém mais do que vocês pode dar testemunho do amor cristão.”

Criativos e alegres

 

O convite do arcebispo é para não desviar o olhar: "Por muito tempo vocês estiveram na sombra, este é o momento de reavivar a esperança", porque aqueles que experimentam a fraqueza são testemunhas do amor de Cristo.

O prelado conta então a história de uma criança nascida em uma família nobre em 1013 na Suábia. Uma criança com deficiência, deformada, que foi confiada a uma comunidade de monges. O menino chamava-se Erman, não falava nem escrevia, mas os frades o acolheram com carinho mesmo assim. Aprendeu latim, grego, matemática, música e até árabe, e depois morreu de pleurisia.

"Sabem por que lhe contei esta história?", pergunta Fisichella. "Porque Erman escreveu o Salve Rainha", uma oração de fé nascida de um menino com deficiência que "experimentou o que era a verdadeira esperança, a verdadeira fé e o amor por Maria, mãe da misericórdia".

Por isso, conclui Fisichella, nunca se deve dar por vencidos, "tornem-se mais criativos, alegres, capazes de comunicar a esperança que está dentro de vocês".

Por fim, o canto coral, precisamente em homenagem a Erman, do Salve Regina em todas as línguas das pessoas presentes na Praça.

Alessio Carparelli e Bárbara Racca Alessio Carparelli e Bárbara Racca

Alessio Carparelli e Bárbara Racca   (Vatican Media)

Testemunhas de cuidado e amor

 

Após o momento de oração, o espaço para alguns testemunhos. De Kerala, na Índia, por meio de um vídeo, dom Mar José Pulickal, bispo da Eparquia de Kanjirapally, relata a experiência da “Aldeia dos Anjos”, uma iniciativa que oferece oportunidades de educação, formação e reabilitação a mais de duzentas crianças com deficiência mental.

Alessio Carparelli e Barbara Racca, pais de duas crianças de 22 e 15 anos, ambas com autismo, relembram o sofrimento que vivenciaram ao descobrir a deficiência dos filhos.

“Isso destruiu nosso projeto familiar - diz Alessio - pedimos ajuda, aprendemos a redesenhar nossas vidas, a viver novamente e não sobreviver mais”.

Barbara expressa sua esperança: que todos possam olhar para o outro sem pressa, oferecendo um sorriso: “não tenhamos sempre pressa no dia a dia e no trabalho, paremos sempre”.

Os jovens da paróquia dos Santos Mártires de Uganda Os jovens da paróquia dos Santos Mártires de Uganda

Os jovens da paróquia dos Santos Mártires de Uganda   (Vatican Media)

Annamaria, Mario, Raffaele e Lavinia contam suas histórias, todos vindos da Paróquia dos Santos Mártires de Uganda. Annamaria tem 20 anos, estuda na universidade e conta que perdeu sua irmã Eliana, com deficiência, há alguns anos. Ela é sincera, determinada, faz questão de dizer que está ali diante de São Pedro como catequista e não como familiar de uma pessoa com deficiência. Ela tem claro em sua mente que a inclusão de um adulto é frequentemente caracterizada por piedade ou assistência; a de uma criança é aceitação, amizade e também amor. Ela, portanto, nos convida a deixar as crianças crescerem juntas, com deficiência ou não, porque somente crescendo juntos podemos mudar nossa perspectiva.

A experiência de Raffo também é tocante: ele não fala, mas tem a voz de Lavinia. Ele tem 13 anos e, em seu testemunho, diz que parece estranho, mas ele entende, observa, compreende. Ele fala da beleza de sua paróquia, do Papa Francisco e dos sapatos pretos que usou até o fim, um sinal de sua dedicação ao próximo. "Eu também, como ele - escreve - gostaria de usar meus sapatos para ajudar os outros".

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