Gemelli, infectologista Carlo Torti: Francisco nos ensinou a cuidar das relações

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23/abr/2025


O depoimento do diretor da Unidade Operatória de Doenças Infecciosas da equipe médica que tratou Francisco durante sua internação no Gemelli foi dado à mídia vaticana: "Ele soube consolidar o nosso grupo, um verdadeiro guia, em diversas ocasiões nos presenteou com Terços da Terra Santa, pois sempre se preocupou com as necessidades dos outros, não apenas com a sua própria integridade física.

Antonella Palermo – Vatican News

Um verdadeiro "pulmão" para um mundo dilacerado, uma ampla "respiração" para olhar além dos estreitos limites da própria individualidade. Este foi o Papa Francisco até o fim, e ainda mais nos últimos momentos de sua vida terrena: à medida que seu fôlego falhava e sua voz se tornava mais fraca, sua preocupação com os outros se tornava ainda mais forte. Confirmou isso, metaforicamente falando, o Dr. Carlo Torti, diretor da Unidade Operatória de Doenças Infecciosas do Hospital Gemelli, um dos membros da equipe médica que tratou o Papa durante sua internação por pneumonia bilateral. Ele relata as últimas semanas do Pontífice à mídia vaticana, desde sua admissão no hospital até o abraço do Sucessor de Pedro ao mundo no Domingo de Páscoa.

"O Papa foi um guia para nós, médicos"

"Quando chegou a notícia de que iríamos cuidar do Papa, o impacto emocional foi muito intenso em todos nós. Fomos chamados a seguir uma pessoa que representava um ponto de apoio espiritual e moral para o mundo inteiro. Na primeira consulta — lembra o Dr. Torti — toda essa preocupação foi resolvida, amenizada, na medida em que a atitude diante do sofrimento que ele demonstrava em relação a nós era a de qualquer paciente que se relaciona de forma equilibrada com o médico". O infectologista destaca a extrema confiança na equipe do hospital: "Ele também ajudou muito no processo de tratamento. Fomos muito coesos e muito focados em suas necessidades, não só físicas, mas também humanas. A proximidade, o aperto de mão, para ele como para todos os outros pacientes, é algo muito importante." A reciprocidade era tanta que o Papa, explica o médico, "representava também para nós um guia, com as suas necessidades físicas e psicológicas que, na medida do possível, procurávamos levar em conta".

"Deu-nos várias vezes terços da Terra Santa"

Torti conta que, em várias ocasiões, Francisco deu à equipe do Gemelli um terço, sublinhando, o Papa, que vinha da Terra Santa. Esta observação não foi casual, de acordo com Torti: "Mesmo nesses momentos, ele tinha bem presente a fragilidade do mundo. O que me surpreendeu foi o fato de, nos seus momentos de fragilidade pessoal, ele usava estas referências para pensar nos outros, nas pessoas mais necessitadas. Evidentemente, a sua dimensão espiritual tendia mais para o próximo", frisa o médico, recordando os sinais reveladores de uma personalidade, a de Jorge Maria Bergoglio, constantemente aberta ao mundo: "Uma pessoa que identificava bem as necessidades, não só materiais, das pessoas e procurava apoiá-las num sentido global. Perdemos efetivamente um ponto de referência neste mundo que parece ter cada vez menos".

O Papa, tecelão de laços, consolidar a equipa médica

“No final do dia, fica-se com a sensação do que se fez, do que se percebeu, do que se deu, mais do que de um acontecimento específico”, confidencia Torti, "mas devo dizer que, de fato, cada vez que entrávamos no quarto para a consulta, talvez inicialmente com uma certa circunspeção, ele nunca nos fez sentir nenhum desconforto que lhe pudéssemos ter causado, especialmente nos momentos mais exigentes para ele. Esta é também uma espécie de “clareza” metafórica que ele nos transmitia. Claro que houve momentos em que ficamos muito preocupados, algumas quedas, mas o fato de termos criado uma equipe, e de ele próprio a ter cimentado, foi um pouco a nossa cura. Nós fornecemos a ele uma cura, mas ele forneceu uma cura para toda a equipe. Para mim, este é o paradigma do doente que tem uma boa relação com as pessoas que o tratam, e os médicos também gostam disso. Em suma, Francisco foi um tecelão até o fim, e “talvez no momento mais crítico da sua saúde”. Isto vale mais do que uma anedota, porque mostra a sua espessura e profundidade, mesmo não convencional. É algo que nunca esquecerei".

O Papa se preocupava com a “respiração” do mundo

O Dr. Torti enfatiza como o Papa conseguiu gerar uma atmosfera serena, quase como se quisesse "desmistificar" sua pessoa. Ele também expressou isso na audiência no Vaticano concedida em 16 de abril ao grupo de dirigentes e funcionários do Gemelli, da Universidade Católica e da Direção de Saúde e Higiene da Cidade do Vaticano: "Ele se apresentava como um ponto de referência não tanto por sua autoridade, mais por sua credibilidade. Vocês entendem que os grandes são grandes quanto mais se abaixam e se fazem entender pelas pessoas que interagem com eles. Para mim, esta continua sendo uma das características mais importantes do Papa Francisco: fazer-se próximo e abaixar-se ao nível dos outros, mesmo em momentos em que se pensaria apenas na própria integridade física". Olhando para o período de convalescença, a percepção era de "um paciente certamente apegado à vida e ao seu valor, mas também muito aberto à vontade de Deus. É algo que, na minha opinião, lhe deu serenidade". E conclui: "Certamente, mesmo quando sentia dispneia e lutava para respirar, era evidente que a respiração que mais o interessava não era a sua própria respiração, mas a respiração no mundo e para o mundo. Até o fato de se imergir na multidão era como lançar seu coração para além daquele obstáculo da respiração, em direção à respiração do mundo."

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