Assim como em 2020, quando acompanhou a humanidade durante a crise da Covid, também hoje Francisco continua a guiar a barca da Igreja e a ser um ponto de referência no mundo, apesar da doença e em meio às “tempestades” de guerras, rearmamento e pobreza. Durante sua internação fez inúmeros apelos pela paz, enviou mensagens, escreveu uma carta ao jornal “Corriere della Sera” e tomou decisões governamentais, incluindo mais de 40 nomeações e o início de um caminho rumo à Assembleia eclesial de 2028.
Salvatore Cernuzio – Cidade do Vaticano
Cinco anos atrás, na noite deste mesmo dia 27 de março, Francisco estava em uma Praça São Pedro deserta, iluminada apenas pelos faróis e pelo eco das sirenes. A humanidade inteira estava confinada em suas casas devido à pandemia de Covid-19, mas o Papa estava ali, no coração da cristandade, sozinho, embora acompanhado pelos olhares, pelas transmissões ao vivo e pelas orações de todos. “Percebemos que estamos todos no mesmo barco, frágeis e desorientados, mas ao mesmo tempo importantes e necessários, todos chamados a remar juntos, todos precisando nos confortar mutuamente. Neste barco… estamos todos.” – disse Francisco naquela ocasião.
Cinco anos depois, é o Papa quem se encontra “confinado” em sua casa, Santa Marta, para seguir a convalescença prescrita pelos médicos após a pneumonia bilateral que o fez correr risco de vida duas vezes e exigiu uma internação hospitalar de 38 dias. Sozinho, mas acompanhado fisicamente pela equipe médica e seus colaboradores mais próximos e, espiritualmente, pelas orações de muitos, até mesmo de quem não crê. Frágil, mas firme – e também neste 27 de março de 2025, assim como em 2020 – continua sendo um ponto de referência para uma humanidade desorientada. A tempestade agora já não é mais a pandemia, mas sim as guerras e crises, a corrida pelo rearmamento e a vida dos povos sufocada pela violência e pela precariedade. “Neste barco… estamos todos.”
O olhar sobre o mundo e sobre a Igreja
Jorge Mario Bergoglio não deixou de guiar essa barca e não parou de fazê-lo nem mesmo durante a “quaresma” que passou no Gemelli, entre emergências respiratórias, terapias farmacológicas e fisioterapia. Com as mãos no leme da Igreja e os olhos voltados para os horizontes da Europa, do Oriente Médio, da África e do Sudeste Asiático – todos dilacerados pela guerra, que, “visto daqui”, do espaço asséptico do décimo andar do Hospital, “parece ainda mais absurda”. Uma frase escrita na meditação do Angelus de 2 de março que ficou marcada na memória de todos. Foi a segunda de seis meditações divulgadas a cada domingo desde 14 de fevereiro, dia de sua internação, durante o qual a janela do escritório privado do Palácio Apostólico do Vaticano permaneceu fechada.
Em cada uma de suas reflexões, nunca faltou uma menção aos conflitos, desde a primeira meditação, em 16 de fevereiro, até a de domingo, 23 de fevereiro, véspera do terceiro aniversário do início da agressão em larga escala contra a Ucrânia. “Uma data dolorosa e vergonhosa para toda a humanidade”, definiu o Santo Padre, convidando a lembrar “as vítimas de todos os conflitos armados” e a “rezar pelo dom da paz na Palestina, em Israel e em todo o Oriente Médio, em Mianmar, no Kivu e no Sudão”. Esse apelo também foi repetido no Angelus de domingo, 9 de março, quando expressou “preocupação” com a escalada da violência na Síria, pedindo “total respeito a todas as comunidades étnicas e religiosas da sociedade, especialmente os civis”. Depois, em 16 de março, durante um domingo especial com a presença de crianças de diversas nacionalidades no pátio do Gemelli, pediu que rezassem especialmente pelos “países feridos pela guerra”. E, novamente, no dia 23 de março, quando recebeu alta do hospital, Francisco expressou sua dor diante da retomada dos bombardeios israelenses sobre Gaza: “Peço que as armas se calem imediatamente e que haja coragem para retomar o diálogo, para que todos os reféns sejam libertados e se alcance um cessar-fogo definitivo”, escreveu, denunciando a “gravíssima situação humanitária” na Faixa de Gaza, que “exige um compromisso urgente das partes em conflito e da comunidade internacional”.
“Desarmar as palavras, as mentes e a Terra”
Além dos Angelus, também permaneceram marcadas as palavras de paz que Francisco enviou ao diretor do jornal italiano Corriere della Sera, Luciano Fontana, em uma carta de resposta aos votos de pronta recuperação. A carta foi publicada justamente nos dias em que se discutia o plano do “ReArm Europe”, e nela o Papa faz um apelo ao desarmamento, começando pelas palavras: “As palavras nunca são apenas palavras: são fatos que constroem os ambientes humanos. Elas podem unir ou dividir, servir à verdade ou se aproveitar dela”. E acrescentou: “Precisamos desarmar as palavras, para desarmar as mentes e desarmar a Terra”, reforçando que “enquanto a guerra apenas devasta comunidades e o meio ambiente, sem oferecer soluções para os conflitos, a diplomacia e as organizações internacionais precisam de um novo fôlego e credibilidade”.
Mais de 40 nomeações e um chirografo
Com uma assinatura em letra cursiva pequena, Francisco encerra a carta ao jornal italiano. A mesma assinatura que ele colocou em documentos oficiais durante sua internação. Foram 44 nomeações feitas durante as seis semanas no Gemelli, incluindo bispos, arcebispos, núncios (para Burquina Faso, Chile, Bielorrússia) e a nova presidente do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano, a irmã Raffaella Petrini, no dia 15 de março. Dez dias depois, nomeou dois novos secretários para o Governatorato vaticano: dom Nappa, até então secretário adjunto do Dicastério para a Evangelização, e o advogado Puglisi-Alibrandi, que ocupava a função de vice-secretário geral.
Além disso, publicou em 26 de fevereiro o Chirografo que institui a Commissio de donationibus pro Sancta Sede, um novo organismo criado para “incentivar doações com campanhas específicas” entre fiéis, conferências episcopais e outros possíveis benfeitores, bem como “buscar financiamentos de doadores generosos para projetos específicos apresentados pelas Instituições da Cúria Romana e pelo Governatorato”.
O início de um caminho
Nos 38 dias em que guiou a barca em meio à tempestade da doença e da situação mundial, também preparou quatro catequeses para as audiências gerais das quartas-feiras (19 e 26 de fevereiro, 5 e 19 de março), enviou seis mensagens – incluindo a Mensagem de Quaresma e aquelas destinadas aos participantes da Assembleia Geral da Pontifícia Academia para a Vida, à peregrinação do Movimento pela Vida e à plenária da Comissão para a Tutela dos Menores – e escreveu uma carta ao cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo, estabelecendo o início de um percurso que levará a uma Assembleia eclesial em 2028 no Vaticano, consolidando o caminho percorrido até então, sem convocar um novo Sínodo.
Uma decisão que coloca novamente a Igreja universal em marcha pelos próximos três anos, sempre acompanhada pelo Papa. Nunca sozinho, mesmo quando isolado; nunca fraco, mesmo em convalescença; nunca ausente, mesmo fisicamente distante dos fiéis por causa de uma epidemia mundial ou de uma doença pessoal.
Fonte (Vatican News)
Estamos reproduzindo um artigo do site Vatican news.
A opinião do post não é necessariamente a opinião do nosso blog!