O Papa: tecer redes de salvação num território ainda marcado pelo flagelo da máfia



Na mensagem de vídeo à Pontifícia Faculdade Teológica da Sicília “São João Evangelista”, Francisco destaca a necessidade “de aprender o artesanato da Teologia como tecelagem de redes evangélicas de salvação, bem ao longo das margens sicilianas do Mediterrâneo. É um trabalho paciente que tenta narrar o amor do Mestre, capaz de despertar o estupor do encontro e da amizade”.

Mariangela Jaguraba – Vatican News

O Papa Francisco enviou uma mensagem de vídeo, nesta quarta-feira (16/10), à Pontifícia Faculdade Teológica da Sicília “São João Evangelista” por ocasião do 43º aniversário do início das atividades acadêmicas.

“Coloco-me idealmente nas pegadas de São João Paulo II que visitou a Faculdade da Sicília, em 21 de novembro de 1982, por ocasião de sua visita pastoral a Belice e Palermo”, diz o Papa na viodeomensagem.

Tecer redes de salvação fiéis ao modo de amar de Jesus

Segundo Francisco, essa Faculdade, que nasceu “com uma forte vocação eclesiológica, é chamada a tornar-se protagonista para enfrentar os desafios que o Mediterrâneo coloca à Teologia: o diálogo ecumênico com o Oriente; o diálogo inter-religioso com o Islã e o Judaísmo; a defesa da dignidade humana do Mare nostrum, muitas vezes transformado num monstro pela lógica da morte; a força cultural e social da religiosidade popular – “piedade popular”, como dizia São Paulo VI; o recurso da literatura para o resgate da dignidade cultural do povo; e, sobretudo, os desafios de libertação que vêm do grito das vítimas da máfia”.

Trata-se de aprender o artesanato da Teologia como tecelagem de redes evangélicas de salvação, bem ao longo das margens sicilianas do Mediterrâneo; é um trabalho paciente que tenta narrar o amor do Mestre, capaz de despertar o estupor do encontro e da amizade. Estupor, que é justamente o nervo que desperta a fé.

Segundo o Papa, “a tarefa da Teologia do Mediterrâneo é a de tecer redes de salvação, redes evangélicas fiéis ao modo de pensar e de amar de Jesus, construídas com os fios da graça e entrelaçadas com a misericórdia de Deus, com as quais a Igreja pode continuar a ser, mesmo no Mediterrâneo, sinal e instrumento de salvação para o gênero humano. É assim que a Teologia pode amar, pode se tornar caridade”.

A Teologia exige e inclui o testemunho até o sacrifício da vida

A seguir, Francisco diz na mensagem de vídeo que “as redes são tecidas e consertadas sentados no chão, muitas vezes ajoelhados. Não nos esqueçamos de que essa é a melhor posição para amar o Senhor: de joelhos. Isso significa assumir o estilo do lava-pés e o do Bom Samaritano que se inclina diante das feridas da vítima nas mãos dos ladrões. As mãos dos teólogos, podemos imaginá-las assim: mãos que falam do abraço de Deus, mãos que oferecem ternura – não nos esqueçamos dessa palavra, ternura, que é o estilo de Deus -, mãos que levantam aqueles que caíram e os guiam à esperança. E não nos esqueçamos de que somente uma vez é permitido olhar para uma pessoa de cima para baixo: somente para ajudá-la a se levantar”.

Portanto, a Teologia exige e inclui o testemunho até o sacrifício da vida, a doação de si por meio do martírio. Esta terra conhece grandes testemunhas e mártires, do padre Pino Puglisi ao juiz Rosario Livatino, sem esquecer os magistrados Paolo Borsellino e Giovanni Falcone, e muitos outros servidores do Estado. Eles são “verdadeiras cátedras” da justiça, convidando a Teologia a contribuir, com as palavras do Evangelho, ao resgate cultural de um território ainda dramaticamente marcado pelo flagelo da máfia.

“Não devemos nos esquecer disso: fazer Teologia no Mediterrâneo, portanto, significa lembrar que a proclamação do Evangelho passa pelo compromisso com a promoção da justiça, a superação das desigualdades e a defesa das vítimas inocentes, para que o Evangelho da vida brilhe sempre e o mal seja rejeitado em todas as suas formas”, diz ainda o Papa.

Cultivar o diálogo

Segundo Francisco, a Sicília “é também um lugar onde diferentes culturas, histórias e rostos se encontram em harmonia, o que compromete a Teologia a cultivar o diálogo com as Igrejas irmãs do Oriente, que também têm vista para o Mediterrâneo”.

A rota do diálogo ecumênico e inter-religioso, por mais difícil que seja, é aquela a ser proposta e apoiada através de experiências de encontro, experiências também de confronto e de colaboração na escuta comum do Espírito Santo. É o legado de muitos mártires do diálogo no Mediterrâneo. Portanto, também a vocês é confiada a missão de ser laboratório de uma Teologia do diálogo ecumênico e de uma Teologia das religiões que conduza a uma Teologia do diálogo inter-religioso. Sempre a palavra “diálogo”, “diálogo”: abertura.

O Papa conclui a mensagem de vídeo, ressaltando que “o Mediterrâneo precisa de uma Teologia viva, que cultive plenamente a sua dimensão contextual, tornando-se um apelo para todos”. “Cultivem esta Teologia comprometida com a história, assim como Deus na carne do Filho se comprometeu com as nossas lágrimas e as nossas esperanças. Promovam uma Teologia que, do alto da cruz e de joelhos diante do próximo, use palavras humildes, sóbrias e radicais, para ajudar todos a se aproximarem da compaixão, e palavras que nos ensinem a ser o limiar do Mistério divino. E sejam tecelões de redes, redes de salvação, de compaixão e de amor, para finalmente gerar uma nova história, mas uma história enraizada na história do povo”.

Veja o vídeo do Papa à Pontifícia Faculdade Teológica da Sicília



Fonte (Vatican News)

Estamos reproduzindo um artigo do site Vatican news.

A opinião do post não é necessariamente a opinião do nosso blog!

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