O Vaticano entre trilhos e câmeras: os Jubileus na era moderna

27/maio/2025


Do Jubileu de 1933 ao de 2000, o trem e os meios de comunicação de massa transformaram a maneira de viver e comunicar o Ano Santo. Um volume publicado pela Giunti conta a história do entrelaçamento de espiritualidade, tecnologia e narração visual. Resultado de uma sinergia sem precedentes entre a Fundação MAC e a Fundação FS, o livro oferece uma leitura interdisciplinar da peregrinação a Roma. A apresentação de 27 de maio no Ministério do Made in Italy: uma oportunidade para repensar a história

VATICAN NEWS

Da carruagem ao cinema: a revolução de 1933

O Jubileu extraordinário de 1933, desejado por Pio XI para celebrar os 1900 anos da morte e ressurreição de Cristo, marcou uma virada simbólica na relação entre a Santa Sé e as tecnologias modernas. Pela primeira vez, trens e cinema entraram no coração do Vaticano: a Estação ferroviária vaticana foi concluída e um foi criado um Centro de estudos e produções cinematográficas sob o controle direto do papado. O volume Peregrinos e espectadores. Os jubileus, o trem, a mídia, editado por Gianluca della Maggiore e monsenhor Dario Edoardo Viganò, presidente da Fundação Memórias audiovisuais do catolicismo (MAC), analisa esta transformação como uma etapa fundamental daquela “modernização sem modernidade” que caracteriza a história da Igreja católica.

Imagens como agentes da história

O volume, publicado pela Giunti e promovido pelas Fundações MAC e FS (Ferrovie dello Stado) Italiane, é resultado de uma pesquisa baseada em materiais de arquivos prestigiosos como o Instituto Luz, o Arquivo Apostólico Vaticano e o Arquivo da Fundação FS. As imagens coletadas não são apenas fontes documentais, mas agentes históricos reais, capazes de orientar a interpretação dos acontecimentos. O “cinema útil”, segundo a definição utilizada pelos autores, servia para fortalecer a autoridade do papado e para narrar a fé por meio das novas linguagens visuais do século XX.

O Jubileu de 1950 e o peregrino-turista

Em 1950, sob Pio XII, o Jubileu tornou-se uma oportunidade para fortalecer a aliança entre a Santa Sé e o Estado italiano em uma Itália democrata-cristã em reconstrução. A nova Estação Termini, com seu icônico abrigo, substituiu simbolicamente a do Vaticano, tornando-se o emblema de uma Roma projetada para o mundo. Os peregrinos gradualmente se transformaram em turistas religiosos, atraídos não apenas pela espiritualidade, mas também pela cultura e pelo consumo. O documentário "Desiderio di Roma", produzido pela Ação Católica, mostrou como as mídias cinematográficas tinham plenamente se tornado instrumentos pastorais.

Do Centro para as periferias: a Igreja em saída

Durante os anos do Concílio Vaticano II e os pontificados de João XXIII e Paulo VI, o trem mudou de direção: de um meio de atrair os fiéis a Roma, tornou-se um símbolo de uma Igreja que caminhava em direção a eles. As viagens papais de trem, os Dias dos Ferroviários e a produção de filmes pelas próprias Ferrovias do Estado mostravam um papado mais próximo da realidade cotidiana das pessoas. João Paulo II, em particular, fez do trem um poderoso veículo simbólico e midiático, como em sua viagem a Assis em 2002, após os ataques de 11 de setembro.

O Jubileu entre fé e modernidade

A história contada no volume mostra como os Jubileus não são apenas eventos espirituais, mas também instrumentos para interpretar e influenciar a sociedade de sua época. Cada avanço tecnológico – da ferrovia ao cinema, da fotografia aos cinejornais – tornou-se uma oportunidade para redefinir a identidade da Igreja. O livro, enriquecido por ensaios de estudiosos de diferentes disciplinas, demonstra que ler os Jubileus através da mídia significa entender como a religião se adapta, resiste e dialoga com as forças da modernidade. Uma reflexão que permanece atual também hoje, no coração de um novo Ano Santo.

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