Poesia – Sob o signo da libertação e das liberdades


Na vigília do Dia Mundial da Poesia (21/3), o programa “África em Clave Cultural” falou com Carlota de Barros, poeta cabo-verdiana. O seu livro poesia, “Mulheres de Março” é apresentado neste dia 20, em Lisboa. Na sua crónica, Filinto Elísio leva a sentir a tonalidade de poetas como Agostinho Neto, Noémia de Sousa, Onésimo Silveira, que abraçaram a poesia sob o signo de libertação e de liberdade. Referência também ao livro “Viva a Poesia” do Papa Francisco.

Dulce Araújo – Vatican News

Março é mês da poesia e da mulher. Carlota de Barros une as duas no seu mais recente livro de poesia “Mulheres de Março” que é lançado neste  dia 20/3/25 no Gremio Literário em Lisboa. Em entrevista à Rádio Vaticano, explica a razão de ser deste livro que, diz, traz também um poema para o Papa Francisco, esperando que volte para o Vaticano ainda “mais forte”.  Papa Francisco que já diversas vezes exprimiu apreço pelo valor da poesia e da literatura em geral como instrumento de humanização e evangelização, recomendando que seja incluída no magistério. O livro “Viva a Poesia” que recolhe escritos do Papa sobre esta matéria é referenciada na emissão “África em Clave Cultural: personagens e eventos” deste dia 20/3/25, que tem também a habitual crónica do poeta e editor, Filinto Elísio a ler em baixo. 

O livro  "Mulheres de Março" de Carlota de Barros

O livro “Mulheres de Março” de Carlota de Barros

Crónica 

“Poesia – Sob o signo da libertação e das liberdades

O Dia Mundial da Poesia comemora-se anualmente, a 21 de março. A data foi implementada na 30ª Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 1999.

O objetivo é promover a poesia em todo o mundo, dando novo reconhecimento e impulso aos movimentos de poesia em qualquer parte.

Ocasião pródiga para homenagear os poetas, reavivar as tradições orais dos recitais de poesia, promover a leitura, a escrita e o ensino da poesia, fomentar a convergência entre a poesia e outras artes como o teatro, a dança, a música e a pintura, e aumentar a visibilidade da poesia. poesia na comunicação social e na rede social.

Este dia pretende salientar a importância da poesia, uma das formas mais preciosas de expressão e identidade cultural e linguística, enquanto manifestação artística comum a toda a Humanidade.

Celebra-se neste dia a pluralidade linguística, enfatizando a importância de preservar e apoiar a diversidade das línguas, especialmente as que estão em vias de extinção. A poesia ajuda a preservar a herança cultural dos povos através da linguagem.

Igualmente, revisitam-se os vários géneros poéticos, reavivando o interesse pelas formas tradicionais e contemporâneas de poesia, e inspirando as pessoas a ler, escrever e executar poesia.

Promove-se a integração da poesia na vida pública, como um poderoso efeito unificador e valorização das questões sociais e culturais.

Uma das questões essenciais é o reconhecimento do papel dos poetas, destacando o contributo dos poetas para o desenvolvimento dos valores humanos, da libertação e das liberdades.

Neste ano de 2025, o Dia da Poesia para nós será relembrado, no quadro da 7ª edição do Festival de Literatura-Mundo do Sal, em tributo ao Cinquentenário das Independências Nacionais de Angola, Cabo Verde, Moçambique e São Tomé e Príncipe, nas figuras dos poetas da libertação destes países africanos, como Agostinho Neto, Onésimo Silveira, Noémia de Sousa e Alda Espírito Santo.

O poeta angolano Agostinho Neto que teve versos como “À bela pátria angolana nossa terra, nossa mãe/ havemos de voltar/ Havemos de voltar/ À Angola libertada/ Angola independente.”; o poeta cabo-verdiano Onésimo Silveira, com o seu “O povo das ilhas quer um poema diferente/ para o povo das ilhas:/ Um poema sem homens que percam a graça do mar/ E a fantasia dos pontos cardeais”; a poeta moçambicana Noémia de Sousa nos seus versos: “Tirem-nos tudo…/ mas não nos tirem a vida,/ não nos levem a música!”; e a poeta santomense Alda Espírito Santo, com a toada: “E os gemidos cantados das negritas lá do rio/ ficam mudos lá na hora do regresso…/Jazem quedos no regresso para a roça.”

Os participantes deste Festival Literário, em junho próximo, poderão não só ler poemas, mas também participar em mesas científicas, com reflexões e debates sobre estes autores cujas obras poéticas contribuíram para a libertação dos seus respetivos países.

No dizer da Diretora Geral da UNESCO, Audrey Azoulay: “Disposta em palavras, colorida com imagens, batida com a métrica certa, o poder da poesia não tem igual. Como forma íntima de expressão que abre portas aos outros, a poesia enriquece o diálogo que catalisa todo o progresso humano e é mais necessária do que sempre em tempos turbulentos.”

Capa do livro do Papa "Viva a Poesia"

Capa do livro do Papa “Viva a Poesia”

E se desejar conhecer melhor o percurso da Carlota de Barros, leita também esta crónica de 2020 da autoria de Filinto Elísio: 

“Carlota de Barros – Metonímia de tudo o que escreve no feminino

A escritora Carlota de Barros é hoje um dos nomes marcantes das letras cabo-verdianas. Afirmando-se entre os escritores com dicção e estilos próprios, nos vários géneros que tem cultivado, ela mantém-se fiel às raízes da caboverdianidade e pronta à itinerância insular e diaspórica, apanágio do povo cabo-verdiano.

Nasceu Carlos de Barros Fermino Areal Alves, na Ilha do Fogo, em 24 de Janeiro de 1942. Passou a infância nas Ilhas do Fogo, Brava, São Nicolau e São Vicente. Em 1949 mudou-se, com a família, para Moçambique onde permaneceu até 1957, ano em que partiu para Portugal. Neste país licenciou-se em Filologia Germânica, na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa. Mora em Portugal desde 1974, mais precisamente na cidade de Lisboa.

Foi professora em Cabo Verde: no Externato de S. Nicolau, de que foi fundadora com o marido, Abílio Alves; no Liceu Gil Eanes, em S. Vicente e em várias Escolas Secundárias e Preparatórias de Portugal. Trabalhou no Ministério de Educação, em Lisboa, inserida no Gabinete de Estudos e Métodos.

Tem publicados cinco livros em poesia: “A Ternura da Água”, “A Minha Alma Corre em Silêncio”, “Sonho Sonhado” em Português e, em segunda edição, trilingue: (Caboverdiano, Português e Inglês) pelo Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro e “Na Pedra do Tempo” editado pela Artiletra Edições, em 2018.

 O seu primeiro romance, “Luna – a Noite de Todos os Dias”, foi publicado pela Edições Fénix, em 2014, em 2016, a mesma editora dá à estampa o livro de Contos, “Os Lírios da Memória” e, neste ano 2020, publicou “Sol de Infância – Memórias das macias manhãs solares”, pela Rosa de Porcelana Editora.

Participou em várias Antologias de Poesia: “Da Incerteza”, editada pela Editorial Minerva, “Cabo Verde: Antologia de Poesia Contemporânea – Revista África e Africanidades”, organizada por Ricardo Riso, “Antologias II e III de Escritores de Língua Portuguesa”, coordenadas por Jô Ramos II, “Cabo Verde – 100 Poemas Escolhidos” coordenação de Maria de Fátima Antunes, Simone Caputo Gomes e Érica Antunes Pereira, editada pela Livraria Cardoso, Praia, Santiago, Cabo Verde, “Alma e Coração, Volumes  I e II, da AlmaLusa, “Mund(O)s 8”, “Mund(O) 9”, da Colibri Edições e “Mulheres e seus Destinos, organização de Lena Marçal e Yara dos Santos.

Colaborou com a Revista Pré-textos, dirigida pelo poeta Daniel Spínola, com a Revista Cultural Licungo, do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora, coordenada por Delmar Maia Gonçalves e com a  Revista da Universidade de Aveiro-Letras RUA-L, coordenada por Maria Hermínia Amado Laurel & Reinaldo Silva.

Tem em preparação o livro de poesia, “Mulheres de Março” e juntamente com seu irmão Arsénio de Pina, a “Biografia de Dr. Hermano de Pina”, seu pai.  

É colaboradora assídua da Revista Cultural Artiletra, dirigida por Larissa Rodrigues, Directora da Revista Artiletra.

Carlota de Barros tem um forte pendor existencial que está implícito na sua identidade crioula e na opção de escrever no feminino. Tem uma escrita, tanto em poesia como na ficção, muito fragmentária e que deixa rastos e provas de vida.

A crítica genética está implícita nos textos, porquanto o foco narrativo e poético orientam-se para a configuração feminina cabo-verdiana. Esta configuração feminina é flagrante em ““Sol de Infância – Memórias das macias manhãs solares”, é um assumir a plenitude do feminino cabo-verdiano, porquanto tão insular e insularidade quanto diáspora e diasporizada.

Carlota de Barros é membro da Sociedade de Autores Portugueses (SPA) e da Sociedade Cabo-verdiana de Autores (SOCA) e da Academia Cabo-verdiana de Letras (ACL).

Carlota de Barros é resultante de um romanceiro que não só incorpora várias culturas, umas em encontros, outras em encontrões, mas inscreve-se ela própria, metonímia das cabo-verdianas, nas errâncias pelas ilhas e pelo mundo.”

 

 

 



Fonte (Vatican News)

Estamos reproduzindo um artigo do site Vatican news.

A opinião do post não é necessariamente a opinião do nosso blog!

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