Tradição não é transmissão de coisas ou palavras, uma coleção de coisas mortas. A Tradição é o rio vivo que nos liga às origens, o rio vivo no qual as origens estão sempre presentes.
Luís Eugênio Sanábio e Souza – escritor
A fé cristã é fruto da graça divina que nos conduz a acolher a Tradição Apostólica e a Sagrada Escritura, que o Magistério da Igreja Católica guarda e interpreta com autoridade ao longo dos séculos. Portanto, o verdadeiro conhecimento sobre os ensinamentos de Jesus Cristo não nasce de opiniões ou interpretações subjetivas e isoladas ao longo da história. Jesus Cristo ordenou aos apóstolos que o Evangelho fosse por eles anunciado a todos os homens (Mateus 28,19-20) e esta transmissão, segundo a ordem do Senhor, fez-se de duas maneiras : oralmente e por escrito. A transmissão oral é chamada de Tradição Apostólica enquanto distinta da Sagrada Escritura, embora intimamente ligada a ela. Esta Tradição é a que vem dos apóstolos e transmite o que estes receberam do ensinamento e do exemplo de Jesus e o que receberam por meio do Espírito Santo que Jesus prometeu a eles (João 14,26). Daí resulta que a Igreja “não deriva a sua certeza a respeito de tudo o que foi revelado somente da Sagrada Escritura. Por isso, ambas (Tradição e Escritura) devem ser aceitas e veneradas com igual sentimento de piedade e reverência” (Concílio Vaticano II: DV, 9).
A Igreja explica que da Tradição Apostólica é preciso distinguir as “tradições” teológicas, disciplinares, litúrgicas ou devocionais surgidas ao longo do tempo nas comunidades locais. É à luz da grande Tradição que estas “tradições” podem ser mantidas, modificadas ou mesmo abandonadas, sob a guia do Magistério da Igreja. Comentando sobre a Tradição Apostólica, o memorável Papa Bento XVI assim disse: “Podemos afirmar portanto que a Tradição não é transmissão de coisas ou palavras, uma coleção de coisas mortas. A Tradição é o rio vivo que nos liga às origens, o rio vivo no qual as origens estão sempre presentes. O grande rio que nos conduz ao porto da eternidade. E sendo assim, neste rio vivo realiza-se sempre de novo a palavra do Senhor : “E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos” (Mt 29, 20). Deus inspirou os autores humanos dos livros sagrados. Escritos sob a inspiração do Espírito Santo, os textos bíblicos têm Deus como autor.
Foi a Tradição Apostólica que fez a Igreja discernir que escritos deviam ser enumerados na lista dos Livros Sagrados que é denominada “Cânon” das Escrituras. Esta lista comporta 46 escritos para o Antigo Testamento e 27 para o Novo Testamento. A primeira geração de cristãos ainda não dispunha de um Novo Testamento escrito, e o próprio Novo Testamento atesta o importante processo da Tradição viva. O Concílio Vaticano II indica três critérios para ler a Sagrada Escritura : 1. Prestar atenção ao conteúdo e à unidade da Escritura inteira ; 2. Ler a Escritura dentro da Tradição viva da Igreja inteira; 3. Estar atento “à analogia da fé” que é a coesão das verdades da fé entre si e no projeto total da revelação divina. “O ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo” (Concílio Vaticano II: DV, 10). Crer é um ato pessoal e ao mesmo tempo eclesial.
A fé da Igreja precede, gera, suporta e nutre a fé do fiel católico. “Ego vero Evangelio non crederem, nisi me catholicae Ecclesiae commoveret auctoritas” = “Eu não creria no Evangelho, se a isto não me levasse a autoridade da Igreja Católica” (disse Santo Agostinho, nascido no ano 354).
“Fica, portanto, claro que, segundo o sapientíssimo plano divino, a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja estão de tal modo entrelaçados e unidos que um não tem consistência sem os outros, e que, juntos, cada qual a seu modo, sob a ação do mesmo Espírito Santo, contribuem eficazmente para a salvação das almas” (Concílio Vaticano II: DV n° 10).
Fonte (Vatican News)
Estamos reproduzindo um artigo do site Vatican news.
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