Sínodo: implementação será a partir das equipas e comissões diocesanas

A Secretaria Geral do Sínodo propõe percursos de implementação e assembleias de avaliação com etapas bem definidas nas dioceses já a partir de junho deste ano de 2025.

Rui Saraiva – Portugal

Quando no próximo mês de maio for publicado pela Secretaria Geral do Sínodo o documento de apoio para a fase de implementação do Sínodo, provavelmente, estará já em desenvolvimento o processo de renovação e reativação das equipas e comissões diocesanas, como pedido pelo Vaticano.

Na Carta assinada pelo cardeal Mario Grech e aprovada pelo Papa Francisco, com data de 15 de março de 2025, a Secretaria Geral do Sínodo propõe um “processo de consolidação do caminho já percorrido” entre 2021 e 2024.

“Para que a sinodalidade seja cada vez mais compreendida e vivida como uma dimensão essencial da vida ordinária das Igrejas locais e de toda a Igreja, refere a “Carta sobre o processo de acompanhamento da fase de implementação do Sínodo”.

A Carta alerta para o facto de que esta fase de implementação não deve ser apenas “uma mera aplicação de diretrizes vindas de cima”. “É de fundamental importância garantir que a fase de implementação seja ocasião para envolver novamente as pessoas que contribuíram e para devolver os frutos da escuta”, pode-se ler na Carta.

Reativar e renovar

Como revela o anúncio de “implementação do Sínodo” feito em março pela Secretaria Geral do Sínodo, nesta etapa do processo assumem especial importância as equipas ou comissões sinodais diocesanas.

“As equipas existentes devem ser aprimoradas e eventualmente renovadas, e as equipas suspensas devem ser reativadas e adequadamente integradas”, refere o documento.

Todas as etapas previstas são orientadas por um processo que começa a partir das igrejas locais. A partir das paróquias, das comunidades e das dioceses. A primeira etapa terá início já a partir do próximo mês de junho.

Percursos de implementação

A Secretaria Geral do Sínodo propõe percursos de implementação e assembleias de avaliação com etapas bem definidas.

Assim, logo a seguir à publicação do documento de apoio para a fase de implementação, no mês de maio, deverão começar os percursos de implementação nas igrejas locais. Um trabalho que decorrerá de junho 2025 a dezembro de 2026.

Trata-se de um longo percurso de um ano e meio, pleno de oportunidades de encontro, escuta, partilha e participação. Um período que, com grande probabilidade, poderá permitir sinergias de colaboração, num caminho conjunto que congregue as comunidades e as paróquias. Refletindo e pensando o futuro inspirados pelo Evangelho.

Assembleias de avaliação

No plano previsto pela Secretaria Geral do Sínodo, realce para uma dinâmica de avaliação em forma de assembleias. A Carta agora publicada sobre o processo de implementação do Sínodo sublinha a necessidade de ocorrerem “encontros significativos de avaliação”.

Segundo a orientação proposta, após o período dedicado aos percursos de implementação, entre junho e dezembro deste ano 2025 e todo o ano de 2026, devem decorrer as assembleias de avaliação.

Assim, no primeiro semestre de 2027, deverão ter lugar assembleias de avaliação nas dioceses, refere o documento. No segundo semestre desse mesmo ano terão lugar as “assembleias de avaliação nas conferências episcopais nacionais e internacionais”.

No mesmo sentido, no primeiro semestre de 2028 haverá assembleias continentais de avaliação. Nesse mesmo ano, em outubro, terá lugar em Roma uma grande Assembleia eclesial.

Especial destaque na Carta publicada pela Secretaria Geral do Sínodo para um “Jubileu das equipas sinodais e dos órgãos de participação, que será realizado de 24 a 26 de outubro de 2025”, no âmbito deste Ano Santo.

Conversão de relações, processos e obrigações

Entre 2021 e 2024 o Sínodo envolveu milhões de pessoas em todo o mundo refletindo sobre o tema “Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão e missão”.

No discurso de encerramento da XVI Assembleia Geral do Sínodo, em outubro de 2024, quando aprovou o Documento Final do Sínodo, o Papa Francisco afirmou que a pluralidade das diferenças encontradas durante o caminho sinodal deve ser vivida em harmonia, para que ninguém fique de fora do processo. Porque Deus é para todos.

“Todos, na esperança de que não falte ninguém. Ninguém fique de fora! Todos! E a palavra-chave é esta: a harmonia, que é obra do Espírito; a Sua primeira manifestação forte, na manhã de Pentecostes, é harmonizar todas aquelas diferenças, todas aquelas línguas, todas aquelas coisas… Harmonia!”, assinalou o Santo Padre.

O Documento Final do Sínodo apresenta uma larga panorâmica com uma palavra-chave: a conversão. A conversão de relações, processos e obrigações. Uma conversão contínua a partir da escuta do Evangelho colocando em prática o Concílio Vaticano II, como se pode ler no número 5 do documento.

“De facto, o caminho sinodal está a pôr em prática o que o Concílio ensinou sobre a Igreja como Mistério e Povo de Deus, chamada à santidade através de uma conversão contínua que nasce da escuta do Evangelho”, refere o texto.

E a conversão só é possível se formos capazes de “partilhar com todos o perdão e a reconciliação que vêm de Deus”, refere o ponto 6, algo que é “pura graça da qual não somos donos, mas apenas testemunhas”.

De testemunho falou o Papa Francisco no seu discurso aos participantes no Sínodo, dizendo que os conteúdos do Documento Final devem ser enriquecidos com o “testemunho da experiência vivida”, com palavras partilhadas e atos concretos.

“A igreja sinodal para a missão precisa, agora, que as palavras partilhadas sejam acompanhadas de atos”, declarou o Papa.

Discernimento comunitário com as comissões sinodais

Já em maio de 2024, o especialista em sinodalidade, padre Sérgio Leal, antecipava que a aplicação do Sínodo deveria ser a partir das comissões sinodais diocesanas em discernimento comunitário.

“Partirem da escuta que fizeram e dos desafios que foram lançados pela assembleia e voltar a essas comissões e assembleias sinodais, agora já não para fazer um novo processo de escuta, mas para aplicarmos em discernimento comunitário, até porque as comunidades foram exercitadas neste dinamismo sinodal e agora em caminho sinodal dizerem como é que podemos ser Igreja sinodal em missão aqui na comunidade em que estamos”, disse o padre Sérgio Leal.

Escutar e ser escutado na “Conversação no Espírito”

O sacerdote considera que o método da “Conversação no Espírito” utilizado no Sínodo “permite escutar o outro, ser escutado e sobretudo escutar o Espírito Santo”.

“Este processo de Conversação no Espírito é um processo fundamental, até para a resolução de conflitos numa comunidade, para a projeção pastoral de um plano pastoral diocesano ou paroquial. Porque nos permite escutar o outro, ser escutado e sobretudo escutar o Espírito Santo no meio de tudo isto. Na metodologia sinodal encontramos também em cada grupo o chamado facilitador ou facilitadora, como era no nosso caso uma religiosa. O seu papel era ajudar-nos a ser fiéis à metodologia que nos tinha sido pedida, conduzir os trabalhos, mas com toda a liberdade de irmos onde o Espírito nos levasse”, sublinha o sacerdote.

No final da Carta de 15 de março pode-se ler que “a Secretaria Geral do Sínodo está empenhada em acompanhar e apoiar as Igrejas neste caminho”. Um caminho em conjunto. Aberto a todos.

Laudetur Iesus Christus

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