Em 31 de dezembro, realizou-se o encontro em Damasco entre o novo líder al-Jolani e os responsáveis do clero cristão: um acontecimento que, observa o núncio, era “impensável” até três semanas atrás. Ele fala sobre o Natal também celebrado em valas comuns: a Comunidade internacional poderia ter feito mais para evitar estes horrores: não à espiral de vingança.
Antonella Palermo – Vatican News
No último dia do ano, o líder da Síria Ahmed al-Sharaa, também conhecido como Abu Mohammed al-Jolani, reuniu-se em Damasco com representantes do clero cristão, num contexto de preocupação entre as minorias sírias esperam garantias do novo poder. Na sequência deste encontro, no Dia Mundial da Paz, celebrado em 1° de janeiro, o núncio apostólico na Síria, dom Mario Zenari, que atualmente se encontra na Itália de férias devido ao Natal, mantém uma linha direta constante com os delegados que chegaram na última terça-feira à capital síria vindos de diversas regiões do país. Eis sua entrevista ao Vatican News.
Eminência, que feedback recebeu e que valor tem o encontro tem nesta fase para a evolução das relações entre os cristãos e as autoridades políticas do governo?
É um acontecimento que na história da Síria era impensável até três semanas atrás. Ouvi alguns testemunhos, os bispos e sacerdotes presentes saíram com uma certa esperança pelo futuro da Síria. Ahmed Al Jolani prometeu que será uma Síria para todos, uma Síria inclusiva e no final desejou um Feliz Natal e um ano de paz. Devo dizer também que, como estas autoridades religiosas chegavam de todos os lugares e as de Aleppo estavam um pouco atrasadas, ele quis esperar até que todos estivessem presentes: é algo especial que promete bem, esperamos. Há uma semana eu também tive a oportunidade de conhecer o novo Ministro das Relações Exteriores, também sou decano do Corpo Diplomático, ele queria me ver. Ao nível dos líderes concordamos, devo dizer, em alguns princípios e valores fundamentais. Naturalmente, será preciso ver os fatos, passar das palavras aos atos. Contudo, no encontro do último dia do ano e em outros encontros – em Aleppo, depois com os cristãos do centro e do sul – todos os bispos mostraram um certo otimismo, mas alguns cristãos, especialmente no início, permaneceram muito temerosos. Muitos queriam deixar a Síria imediatamente.
Que mensagem o senhor deseja enviar a esses cristãos?
Eu disse imediatamente aos cristãos: não tenham medo, permaneçam. Este não é o momento de deixar a Síria, mas é o momento, mesmo para os cristãos fora do país, de regressar. Porque temos que estar na linha da frente; como cristãos, esta possibilidade nos é dada, pelo menos em palavras. Devemos estar presentes na reconstrução da nova Síria, propondo os valores da salvaguarda dos direitos humanos, da liberdade e do respeito por todos. Não se pode perder isso! Cada um é livre, mas como núncio peço este compromisso, peço sobretudo às pessoas que possam dar contribuições particulares. A elaboração da nova Constituição começará em breve: apelei a quem tem alguma formação na área do direito constitucional, aos médicos, aos engenheiros. É hora de arregaçar as mangas. Disse isto a todos os sírios e aos cristãos em particular. Se um dia, eles não nos quiserem mais, a gente espera que não, então diremos ‘adeus’. Mas temos que estar presentes.
O Natal foi um momento de verdadeiro renascimento para vocês?
O Natal foi celebrado com este clima de alegria, de esperança. Porém, em certas comunidades, também com um certo receio. A este respeito, gostaria de dizer que quando vi na televisão o Papa que abriu a Porta Santa em São Pedro, pensei como a Síria estava morta, enterrada até poucas semanas antes. E eu, na iminência da abertura do Jubileu, sempre fiz a consideração de que no coração de muitos na Síria não há visão de futuro. De repente, de uma forma completamente inesperada, esta esperança sepultada reapareceu e uma brecha foi aberta. Uma grande porta da esperança não se abriu como a da Basílica de São Pedro. É uma brecha, uma lacuna, mas já é alguma coisa.
Fonte (Vatican News)
Estamos reproduzindo um artigo do site Vatican news.
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