Pelo menos 17 pessoas morreram vítimas das enchentes que estão afetando o norte, o sul e o centro do país africano. Segundo a ONU, mais de 84 mil pessoas foram afetadas pelas chuvas torrenciais e mais de 8 mil foram forçadas a deixar suas casas. Em outras áreas, no entanto, a ONU indica que persiste uma condição de seca e calor que coloca em risco os recursos, em um quadro de décadas de instabilidade social, política e econômica.
Giada Aquilino - Vatican News
O número de vítimas das fortes inundações na Somália, durante o atual período de chuvas registrado desde a metade de abril, subiu para pelo menos 17. Os dados são do Departamento das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA). De acordo com o último relatório da ONU, mais de 84 mil pessoas foram afetadas pelas chuvas torrenciais e mais de 8 mil foram forçadas a deixar suas casas em distritos no norte, sul e centro do país. Somente na capital Mogadíscio, foram registradas cerca de 10 mortes, e cerca de 200 famílias tiveram as casas inundadas. Em Gaalkacyo, mais ao norte, as chuvas forçaram quase 10 mil pessoas a se refugiarem em abrigos improvisados, matando cerca de 1.750 animais.
O contraste entre enchentes e secas
“Apesar das chuvas e enchentes em andamento, espera-se que as condições quentes e secas persistam em algumas regiões, o que aumentará a pressão sobre os recursos”, destaca a ONU, referindo-se tanto à situação árida vivida em outras partes da nação africana, que faz com que pelo menos 3,4 milhões de pessoas enfrentem níveis preocupantes de fome, quanto aos efeitos de eventos climáticos extremos que estão se tornando mais frequentes e intensos. Todo o Chifre da África, incluindo a Somália, é considerado como uma das partes do globo mais vulneráveis às mudanças climáticas.
Em 2024, chuvas torrenciais no leste da África mataram pelo menos 473 pessoas e deslocaram mais de 400 mil, principalmente no Quênia, Tanzânia, Ruanda, Burundi e Somália. No ano anterior, somente na Somália, houve mais de 100 mortes e mais de 1 milhão de pessoas foram deslocadas pelas enchentes. A estação chuvosa, entre abril e junho, foi intensificada pelo fenômeno climático El Niño, uma mudança na dinâmica atmosférica causada, segundo os cientistas, pelo aumento da temperatura da água do mar.
Cortes de financiamento para ONGs
As últimas enchentes, observou a ONU, ocorreram em um momento particularmente delicado: as ONGs - muitas vezes entre os primeiros a responder a emergências e desastres naturais - estão severamente limitadas em sua capacidade de responder a crises devido a cortes de financiamento descritos pela como “paralisantes”, bem no meio da controvérsia em torno dos cortes decididos pelo governo de Donald Trump nos EUA. Os meteorologistas também alertaram que a situação no local não melhorará em curto prazo: novas chuvas são esperadas nos próximos dias no sul e no centro da Somália, em um contexto de décadas de instabilidade social, política e econômica, agravada pela violência jihadista dos milicianos do al-Shabaab, que há 20 anos travam uma insurgência sangrenta contra o poder central.