Um Sinal de Luz no Advento: A Chegada dos Refugiados da Líbia

CIDADE DO VATICANO – Num gesto que ilumina este tempo do Advento, 122 refugiados, incluindo homens, mulheres e crianças provenientes dos campos de detenção da Líbia, desembarcaram em segurança no aeroporto de Fiumicino, em Roma, nesta terça-feira, 16 de dezembro de 2025. A chegada, marcada por um ambiente de festa e alívio, representa mais um sucesso dos corredores humanitários, uma iniciativa que encarna a caridade cristã em ação.

O voo, organizado pela Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR), é fruto de um protocolo de colaboração estabelecido em 2023. Este acordo une os esforços do Ministério do Interior e do Ministério do Exterior e Cooperação Internacional da Itália com organizações da sociedade civil, nomeadamente a Comunidade de Santo Egídio e a Arci. Desde a sua implementação, esta via segura e legal já permitiu que mais de 650 pessoas, particularmente vulneráveis, pudessem escapar do ciclo de violência e exploração na Líbia e encontrar um futuro de paz e dignidade em solo italiano.

Os recém-chegados trazem consigo histórias de profundo sofrimento, mas os seus rostos no aeroporto de Fiumicino expressavam, acima de tudo, esperança. Foram recebidos por voluntários da Comunidade de Santo Egídio e de outras organizações parceiras, que os acolheram com faixas de boas-vindas, agasalhos e um calor humano que contrastava com o frio do inverno europeu e a frieza da indiferença que tantas vezes marca a crise migratória.

O Advento e o Acolhimento do Estrangeiro

A chegada destes irmãos e irmãs durante a terceira semana do Advento, o “Domingo da Alegria” (Gaudete), reveste-se de um profundo significado espiritual. Como cristãos, preparamo-nos para celebrar o nascimento de Jesus Cristo, Aquele que, com a Sua família, também conheceu a experiência do exílio e da fuga. A Sagrada Família, ao procurar refúgio no Egito para escapar da perseguição de Herodes, é o arquétipo de todos os refugiados ao longo da história. O Papa Leão XIV, na sua primeira mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, recordou-nos que “em cada pessoa deslocada que bate à nossa porta, é Cristo quem nos visita”.

Acolher o estrangeiro não é, portanto, uma mera opção de filantropia, mas uma exigência do Evangelho. É o cumprimento da palavra de Jesus em Mateus 25: “Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era estrangeiro, e me acolhestes” (Mt 25,35). Os corredores humanitários são uma expressão concreta desta fé que se traduz em obras, uma forma de construir pontes onde outros erguem muros, respondendo ao ódio com a criatividade do amor.

Um Modelo de Integração e Fraternidade

A iniciativa não se limita a garantir uma viagem segura. A força do projeto reside no processo de integração que se segue. As famílias e indivíduos serão distribuídos por várias cidades italianas, onde receberão apoio para aprender a língua, matricular as crianças na escola, procurar trabalho e, gradualmente, reconstruir as suas vidas com autonomia e dignidade. Este modelo, promovido incansavelmente pela Comunidade de Santo Egídio, demonstra que é possível uma gestão humana e eficaz dos fluxos migratórios, combatendo o tráfico de seres humanos e promovendo uma cultura do encontro.

Este evento em Fiumicino é um farol de esperança que desafia a globalização da indiferença. Mostra que, quando governos, organizações internacionais e a sociedade civil colaboram, guiados por um sentido de fraternidade universal, é possível salvar vidas e construir um futuro mais justo. O Santo Padre, Papa Leão XIV, tem insistido, em linha com os seus predecessores, na necessidade de quatro verbos para abordar a questão migratória: acolher, proteger, promover e integrar. A cena festiva em Roma é a prova de que estes verbos podem e devem ser conjugados na prática.

Enquanto o mundo se prepara para o Natal, a chegada destes 122 refugiados recorda-nos o verdadeiro sentido da celebração: Deus que se faz pequeno, vulnerável e necessitado do nosso acolhimento. Que o seu exemplo de resiliência e a generosidade dos que os recebem inspirem todos os católicos a abrir os corações e as portas a Cristo, que continua a chegar nas faces dos mais pobres e necessitados.

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Fonte: Vatican News